(Agência USP de Notícias) − A degeneração e o rompimento dos discos que ficam entre as vértebras da coluna (tecnicamente chamada discopatia intervertebral na região tóraco-lombar) é um problema bastante comum entre cães da raça Dachshund, os populares “salsichinhas”.
A anomalia pode causar o extravasamento de material calcificado, pressionando e causando lesões na medula espinhal. Um estudo clínico realizado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP testou os efeitos da eletro-acupuntura em animais com discopatia e obteve resultados positivos com a associação dessa técnica chinesa ao tratamento convencional.
Os estudos fizeram parte da pesquisa de Ayne Murata Hayashi para a elaboração de sua tese de mestrado. Num grupo de 50 animais, 26 receberam a eletro-acupuntura, associada ao tratamento comum.
O outro grupo (controle) recebeu apenas o tratamento convencional à base de anti-inflamatórios. Dependendo do grau de lesão, os animais acupunturados chegaram a se recuperar na metade do tempo que o tratamento apenas com remédios fora capaz de fazer ao grupo controle.
“Foram selecionados para receber a acupuntura alguns animais que apresentavam dor crônica e déficit neurológico há mais tempo, o que poderia dificultar a recuperação. Mesmo assim os resultados da acupuntura foram significativos”, explica Ayne, que aplicou o tratamento pessoalmente.
A pesquisadora já tinha consultório quando procurou um curso de acupuntura em animais, quase dez anos depois de graduada na FMVZ. Desde então só trabalha com acupuntura, o que a trouxe de volta à faculdade para pesquisar os efeitos da técnica.
Em ambos os grupos de animais, havia casos de discopatia de todos os níveis de gravidade. A escala utilizada classifica os casos de 1 a 5, sendo 5 o mais grave. Na classificação 1, o animal sente apenas dor local (no dorso); na 2 ele já apresenta falhas em testes neurológicos (propriocepção), podendo apresentar dor ou não. Os níveis de 3 a 5 são caracterizados por paralisia. Um animal no nível 5 não reage a estímulos de dor provocados na região dos dedos das patas posteriores.
A cada sessão de tratamento, Ayne dava notas numa escala neurológica de exame, desenvolvida por ela própria para seus estudos. Essa escala levava em consideração a evolução dos pacientes quanto à sensibilidade, movimentação da cauda, das patas, controle da capacidade de urinar, entre outros aspectos. Este método permitiu agrupar os níveis de lesão em três grupos principais: um com os níveis 1 e 2, outro com os níveis 3 e 4, e o nível 5 separado dos demais.
As agulhas são aplicadas em pontos pré-determinados e ligadas a um eletrodo, emitindo frequência elétrica específica para a liberação de opioides, substâncias produzidas pelo próprio organismo e que atuam no controle da dor.
Ayne realizou este estudo para saber se essas frequências também seriam capazes de reabilitar o sistema nervoso mais rapidamente. Os pontos de aplicação foram distais, ou seja, não foram no local da lesão.
Algumas agulhas foram aplicadas na região da coluna vertebral, outras em locais de ativação dos nervos periféricos, ativando a medula espinhal e fizeram o estímulo chegar até o cérebro.
“Ainda não se sabe exatamente porque a medula se recuperou, inclusive com a diminuição da calcificação gerada pelo material vazado do disco e que a comprimia. Há estudos mostrando que a acupuntura recupera nervos periféricos, ajudando na regeneração do nervo”, lembra.
Ayne acredita que a técnica esteja proporcionando efeitos semelhantes aos conseguidos nos nervos periféricos, só que na medula. É essa a pesquisa que ela pretende realizar para o doutorado: descobrir de que modo a acupuntura atua na medula espinhal.
Resultados
No grupo formado pelos graus de lesão 1 e 2, todos os animais se recuperaram, tanto no grupo da acupuntura quanto no de controle. A diferença deste grupo em relação ao seu respectivo grupo controle foi que os animais tratados com acupuntura estavam doentes havia mais tempo. No grupo de lesões 3 e 4, a acupuntura reduziu pela metade o tempo de recuperação dos pacientes, que voltaram a andar em dez dias, contra 20 dias do grupo de controle. Além disso, enquanto todos os animais deste grupo se recuperaram, apenas 66% do grupo sem acupuntura voltou a se locomover.
Já no grau 5, cujas características indicam lesão grave na medula, o grupo tratado com as agulhas teve 50% de seus pacientes com melhoras significativas, voltando a andar, enquanto o grupo controle teve apenas 12,5% de melhora. “A porcentagem de melhora entre os acupunturados (50%) é semelhante à relatada em grupos que são submetidos a intervenções cirúrgicas”, afirma Ayne, explicando que nesses casos o cirurgião abre uma “janela” na vértebra para criar espaço e descomprimir a medula.
Ayne também relata o caso de um Pinscher, que não entrou para os grupos de animais utilizados em sua pesquisa, mas que foi atendido e tratado pela médica. O Pinscher estava tetraplégico devido a uma lesão na região cervical, e voltou a andar com a aplicação da acupuntura.
Mas a médica alerta: “é bom procurar um acupunturista quando já se tem um diagnóstico. A acupuntura também não é milagrosa, ela é auxiliar ao tratamento com medicação. Se há infecção no disco, por exemplo, tem que se administrar antibiótico. A acupuntura é integrativa com outros tratamentos. ”
Nenhum comentário:
Postar um comentário