O fígado é um órgão que cumpre várias funções. Tem alta
capacidade de regeneração e grandes reservas funcionais. Isso explica por que
os sinais clínicos são observados somente quando estas reservas foram esgotadas
por uma doença progressiva.
Ele é essencial para a digestão, absorção, metabolismo e
armazenamento da maioria dos nutrientes. Também participa na desintoxicação,
catabolismo e excreção de inúmeras toxinas, hormônios e xenobióticos.
Assim, a descompensação da função hepática está associada à
desnutrição, intoxicação, desequilíbrio hídrico e as principais anomalias
metabólicas. Felizmente, o fígado possui inúmeras reservas funcionais e o
parênquima hepático dispõe de uma capacidade de regeneração extraordinária.
Um mau funcionamento do fígado pode causar desordens
metabólicas sérias resultando na alteração da utilização dos nutrientes. O
fígado intervém no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, além de
estocar inúmeras vitaminas e minerais.
Os cães com hepatopatias crônicas comumente apresentam
desnutrição devido a fatores como: anorexia e náuseas, que resultam em
hiporexia (redução no consumo de alimento); prescrição incorreta da dieta,
principalmente com restrição de proteína, má digestão e assimilação dos
nutrientes (nos casos de cirrose e hipertensão portal); e aumento das
necessidades energéticas, que chamamos de hipermetabolismo.
O suporte nutricional tem demonstrado ser fundamental para o
manejo das hepatopatias, tanto em seres humanos como em animais de companhia.
Os objetivos são proporcionar condições ótimas para o reparo
e regeneração do órgão e evitar ou tratar as complicações da insuficiência
hepática, como a encefalopatia ou a ascite.
Tanto no cão como no gato, os três principais objetivos da
abordagem nutricional da doença hepática são os seguintes:
Fornecer a ingestão nutricional ideal de nutrientes e
energia; manter o aporte calórico adequado é prioridade absoluta, especialmente
nos casos de doenças hepáticas, para prevenir a perda de massa magra e peso.
Perda de peso substancial, perda de massa muscular e
hipoalbuminemia são sinais típicos de desnutrição em animais afetados por
insuficiência hepática.
Anorexia, vômitos, má digestão, absorção e metabolismo dos
nutrientes, aumento do catabolismo proteico e síntese insuficiente de proteínas
explicam o mau estado destes animais.
O uso de fontes calóricas não proteicas é importante para
prevenir a mobilização de aminoácidos como fonte energética, evitando ou
diminuindo o processo de gliconeogênese hepática.
As dietas devem apresentar alta densidade energética para
atender as necessidades calóricas e para diminuir o volume de alimento a ser
fornecido. A quantidade necessária de proteína para manutenção, reparação e regeneração
celular varia com o tipo e gravidade da hepatopatia.
É importante também corrigir a má nutrição satisfazendo as
necessidades energéticas e nutricionais de manutenção (aminoácidos, potássio e
zinco, bem como algumas vitaminas, especialmente vitaminas B, C e K).
Otimizar a regeneração dos hepatócitos; apoiar a regeneração
hepatocelular, fornecendo uma quantidade suficiente de nutrientes,
principalmente proteínas, L-carnitina e vitaminas do complexo B.
Uma quantidade adequada de proteína com alta digestibilidade
favorece a regeneração do parênquima hepática. Os quadros de cirrose que
apresentam encefalopatia hepática são mais difíceis de serem conduzidos, pois,
esses animais necessitam de aporte proteico para manutenção do balanço
nitrogenado, porém a ingestão de proteína pode resultar em encefalopatia
hepática.
Por outro lado, se entrarem em balanço nitrogenado negativo,
os animais podem ficar desnutridos, hipoalbuminêmicos, com piora da função
hepática e estado geral.
A manutenção do balanço nitrogenado pode apresentar efeitos
positivos sobre a encefalopatia hepática, pois facilita a regeneração hepática.
O objetivo é proporcionar ao animal doente a quantidade
máxima de proteína sem exceder a tolerância antes das manifestações da
encefalopatia hepática.
L-carnitina é uma amina quaternária necessária para o
transporte de ácidos graxos de cadeia longa a partir do citoplasma da célula
para as mitocôndrias, que são os pequenos elementos dentro das células que irão
produzir energia a partir de lipídios.
As principais áreas de produção de L-carnitina em cães e
gatos são o fígado (principalmente), o cérebro e os rins. As vitaminas do
complexo B são altamente concentradas no fígado sendo armazenadas na forma de
coenzimas.
Portanto uma doença hepática pode resultar em deficiências
de vitaminas estocadas no fígado tais como as vitaminas do complexo B. Durante
a regeneração dos hepatócitos há uma exigência crescente destas vitaminas
podendo ser observada deficiência em alguns casos.
Evitar o acúmulo de cobre e combate contra os radicais
livres; o cobre é absorvido pela ligação com as proteínas do fígado. Esta
capacidade de armazenamento é, contudo, limitada, e o excesso de cobre é
eliminado pela bile.
Concentrações anormais de cobre podem ocorrer a partir de um
defeito no metabolismo do cobre, relatado em determinadas raças de cães
(Bedlington Terrier, West Highland White Terrier, Sky Terrier, Dálmata,
Dobermann Pinscher) ou, secundariamente, como resultado de doença hepática crônica
que cause colestase. Níveis de cobre anormais podem danificar hepatócitos.
O cobre apresenta um alto nível de toxicidade quando não
está ligado às proteínas, em cães com doença hepática crônica ou caquexia.
Na presença de íons superóxido, o cobre catalisa a formação
de radicais hidroxila (uma forma particularmente tóxica de radicais livres) que
provocam a necrose dos hepatócitos. Ingestão de cobre deve ser restrita em
animais com insuficiência hepática ou colestase.
Os radicais livres são componentes importantes das maiores
formas de lesões do fígado. As concentrações anormais de ácidos biliares e a
acumulação de metais pesados, tais como cobre e ferro, provocam a produção de
radicais livres no fígado.
Os antioxidantes permitem ao organismo combater os efeitos
destruidores dos radicais livres (cientificamente chamados “espécies reativas
de oxigênio”), elementos instáveis derivados do oxigênio, produzidos
constantemente pelo organismo.
Os antioxidantes dietéticos mais utilizados são a vitamina
E, a vitamina C, os pigmentos carotenoides, a taurina e os polifenóis.
O tratamento das doenças hepáticas requer cuidadosa atenção
das necessidades particulares de cada paciente. O manejo nutricional objetiva
reduzir o trabalho hepático e ao mesmo tempo atender as necessidades
proteico-calóricas, vitamínicas e minerais de manutenção e promover a
regeneração do órgão lesado.
Os alimentos com estes propósitos devem ser formulados com
ingredientes de qualidade superior, para suprir a demanda proteica necessária e
apresentar alta densidade energética, com adequados teores de carboidrato e
gordura, para diminuir o volume a ser administrado e para reduzir o uso de
proteínas como fonte energética, evitando a formação de produtos nitrogenados.
Na sequência do tratamento cirúrgico (shunts hepáticos) e/ou
médico (lipidose hepática), se o fígado do animal readquirir o funcionamento
normal, a dieta habitual de manutenção poderá ser reintroduzida gradualmente.
Em outros casos, a terapêutica nutricional é necessária durante toda a vida do
animal.
O fígado é um órgão muito importante para o bom
funcionamento do organismo, sendo responsável por cerca de 1.500 funções
bioquímicas, que incluem, entre outros, um papel fundamental na digestão,
absorção e aproveitamento dos nutrientes.
Também não existe uma formulação que funcione bem para todos
os tipos de doenças hepáticas, já que, a depender do quadro do paciente, são
necessárias adaptações.
A maioria dos autores concorda que a restrição de proteínas
deve ser a menor possível, e que ela normalmente não é necessária a não ser que
o cão esteja apresentando um quadro de encefalopatia hepática.
Em outras palavras: para a maioria dos cães com doenças de
fígado, um alto teor de proteínas de boa qualidade é benéfico, e ajuda a
prevenir a caquexia e a ascite (“barriga d’água”); por outro lado, em algumas
condições específicas, (encefalopatia hepática), pode ser necessário reduzir o
teor de proteínas na dieta.
Em todos os casos, a fonte de proteína deve ser de alta
qualidade e fácil digestão: carnes brancas, como frango e peixe, e mesmo ovo,
são as melhores opções. As carnes vermelhas devem ser evitadas.
Como já mencionamos no início do texto, os pacientes com
doenças hepáticas sofrem com a perda de peso, podendo chegar à caquexia. Uma
dieta com alta concentração energética é recomendável, para que o cão consiga
ingerir uma quantidade razoável de calorias mesmo comendo pouco, já que o seu
apetite geralmente está reduzido.
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