O comportamento
homossexual em animais refere-se à evidência documentada de comportamento
homossexual e bissexual em várias espécies não-humanas. Tais comportamentos
incluem sexo, namoro, afeição e parentalidade entre animais do mesmo sexo.
Uma pesquisa de 1999,
feita pelo pesquisador Bruce Bagemihl, mostra que o comportamento homossexual
já foi observado em cerca de 1.500 espécies animais, variando de primatas a
vermes intestinais, e é bem documentado em 500 delas.
O comportamento animal
sexual toma muitas formas diferentes, mesmo dentro da mesma espécie. As
motivações e implicações de tais comportamentos têm ainda de ser totalmente
compreendidas, uma vez que a maioria das espécies ainda não foram totalmente estudadas.
De acordo com
Bagemihl, "o reino animal faz isso com muito maior diversidade sexual -
inclusive homossexual, bissexual e sexo não-reprodutivo - do que a comunidade
científica e a sociedade em geral estão previamente dispostas a aceitar."
A pesquisa atual
indica que várias formas de comportamento sexual homossexual são encontradas em
todo o reino animal. Uma nova revisão feita em 2009 das pesquisas já existentes
mostrou que o comportamento homossexual é um fenômeno quase universal no reino
animal, comum em várias espécies.
Esse tipo de
comportamento sexual é mais registrado em espécies sociais. De acordo com o que
disse a geneticista Simon Levay em 1996, "embora o comportamento
homossexual seja muito comum no mundo animal, parece ser muito incomum que os
animais tenham uma predisposição de longa duração para se engajar em tal
comportamento à exclusão das atividades heterossexuais.
Assim, uma orientação
homossexual, se é que se pode falar de tal coisa nos animais, parece ser uma
raridade." Uma das espécies em que a orientação homossexual exclusiva
ocorre, entretanto, é a da ovelha domesticada (Ovis aries). "Cerca de 10%
dos carneiros (machos) se recusam a acasalar com fêmeas, mas prontamente se
acasalam com outros carneiros do mesmo sexo."
A observação do
comportamento homossexual em animais pode ser visto como um argumento a favor e
contra a aceitação da homossexualidade em humanos e tem sido usada
especialmente contra a alegação de que é um peccatum contra naturam
("pecado contra a natureza").
Por exemplo, a
homossexualidade em animais foi citada na decisão da Suprema Corte dos Estados
Unidos no julgamento Lawrence versus Texas, que derrubou as leis contra a
sodomia de 14 estados daquele país.
Aplicação do termo homossexual a animais
O termo homossexual
foi cunhado por Karl-Maria Kertbeny em 1868 para descrever atração sexual pelo
mesmo sexo e o comportamento sexual em humanos. O uso do termo em estudos em
animais tem sido controverso por duas razões principais: a sexualidade animal e
os seus fatores motivadores foram e continuam sendo mal-entendidos e o termo
tem fortes implicações culturais na sociedade ocidental que são irrelevantes
para outras espécies não-humanas.
Sendo assim, ao
comportamento homossexual foi dado vários termos ao longo dos anos. Ao
descrever os animais, a palavra homossexual é preferível em relação a termos
como gays, lésbicas e outros em uso atualmente, já que estes são ainda mais
vistos como ligados à homossexualidade humana.
A preferência e
motivação animal é sempre inferida a partir do comportamento. Em animais
selvagens, os pesquisadores não podem estabelecer uma regra capaz de mapear
toda a vida de um indivíduo e deve-se inferir a partir da frequência de
observações individuais de comportamento.
O uso correto do termo
homossexual é quando um animal apresenta comportamento homossexual; no entanto,
este artigo está em conformidade com o uso feito pela pesquisa moderna a
aplicação do termo homossexualidade para todo o comportamento sexual (cópula,
estimulação genital, jogos de acasalamento e comportamento de exibição sexual)
entre animais do mesmo sexo.
Na maioria dos casos,
presume-se que o comportamento homossexual não é senão parte do repertório
comportamental sexual geral dos animais, fazendo com que o termo
"bissexual" seja melhor aplicado em vez de "homossexual",
de acordo como essas palavras são comumente compreendidas em seres humanos. No
entanto, casos de preferência homossexual e pares homossexuais exclusivos
também são registrados no reino animal.
Pesquisas
A presença de
comportamento homossexual não foi "oficialmente" observada em larga
escala em animais até tempos recentes, possivelmente devido ao viés do
observador causado por atitudes sociais em relação a esse tipo de comportamento
sexual, confusão inocente, ou mesmo de um medo de "ser ridicularizado por
seus colegas".
O biólogo Janet Mann,
da Universidade de Georgetown, diz: "Os cientistas que estudam o tema são
frequentemente acusados de tentar encaminhar uma agenda e seu trabalho pode
ficar sob maior escrutínio do que o de seus colegas que estudam outros
temas."
Eles também notaram
que "nem todo ato sexual tem uma função reprodutiva ... isso é verdade
para os seres humanos e não-humanos." Isso parece ser difundido entre as
aves e os mamíferos sociais, particularmente os mamíferos marinhos e os
primatas.
A verdadeira extensão
da homossexualidade em animais não é totalmente conhecida. Enquanto estudos têm
demonstrado o comportamento homossexual em várias espécies, Petter Bøckman, o
assessor científico da exposição Against Nature em 2007, especulou que a
verdadeira extensão do fenômeno pode ser muito maior do que é até então
reconhecida:
Não foi encontrada
nenhuma espécie em que o comportamento homossexual não se demonstrou existente,
com exceção de espécies que nunca fazem sexo, tais como ouriços e aphis. Além
disso, uma parte do reino animal é hermafrodita, realmente bissexual. Para
eles, a homossexualidade não é um problema.
Um exemplo de
comportamento homossexual em animais é notado por Bruce Bagemihl, quando ele
descreveu as girafas durante o acasalamento, quando nove em cada dez pares
ocorrem entre machos.
Todo momento que um
macho cheirou uma fêmea foi relatado como sexo, enquanto o sexo anal com
orgasmo entre machos foi apenas relatado como dominação, concorrência ou forma
de cumprimento.
Alguns pesquisadores
acreditam que esse comportamento tem sua origem na organização social do sexo
masculino e na dominância social, semelhante aos traços de dominância mostrados
na sexualidade. Outros, particularmente Joan Roughgarden, Bruce Bagemihl,
Thierry Lode e Paul Vasey sugerem que a função social do sexo (seja homossexual
ou heterossexual) não está necessariamente ligada à dominação, mas serve para
fortalecer as alianças e laços sociais dentro de um rebanho.
Outros argumentaram
que a teoria da organização social é inadequada porque não pode explicar alguns
comportamentos homossexuais, por exemplo, de espécies de pinguins, onde
indivíduos do mesmo sexo são companheiros por toda a vida e recusam-se a formar
um par com as fêmeas quando surge essa oportunidade.
Enquanto pesquisas em
muitos cenários de acasalamento ainda sejam apenas anedóticas, um corpo
crescente de trabalhos científicos confirma que a homossexualidade permanente
ocorre não só em espécies com ligações permanentes entre pares, mas também em
espécies não-monogâmicas, como as ovelhas.
Abaixo, uma citação de um relatório sobre as
ovelhas:
Aproximadamente 8% dos
carneiros exibem preferências sexuais [isto é, mesmo quando recebem uma
oportunidade de escolha] por parceiros do sexo masculino (carneiros machos) em
contraste com a maioria carneiros, que preferem parceiros do sexo feminino
(fêmeas).
Nós identificamos um
grupo de células dentro da área pré-óptica média do hipotálamo anterior de
ovelhas adultas da mesma idade que era significativamente maior em carneiros
adultos do que em ovelhas.
Na verdade, indivíduos
aparentemente homossexuais são conhecidos em todas as espécies domésticas
tradicionais, de ovelhas, gados, cavalos e gatos, até cães e periquitos.
A fim de relatar o
comportamento homossexual nos outros animais, o Museu de História Natural de
Oslo, na Noruega, apresentou em 2006 a primeira exposição dedicada a
"animais gays", que foi chamada de "Against Nature?",
exibindo cerca de 500 espécies que existem relatos de comportamento homossexual
de um universo de 1.500 relatos, desde mamíferos e insetos até crustáceos.
Nos pássaros
australianos Galahs (Roseate Cockatoo), por exemplo, cerca de 44% dos pares são
formados por indivíduos do mesmo sexo. Além desses, há registros bem mais
antigos, como os de Aristóteles, que fez menção a hienas lésbicas.
Em entrevista à
Revista da Folha, o coordenador da mostra, Geir Söli, disse que "a ideia
surgiu depois de analisarmos o livro do biólogo Bruce Bagemihl, 'Biological
Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity', no qual ele descreve
cientificamente a homossexualidade de muitas espécies animais. Acreditamos que
essa seja uma forma de contribuir socialmente para a discussão de um tema que
ainda causa tanta polêmica".
Um estudo publicado
pelo periódico "Trends in Ecology and Evolution" concluiu a
importância do comportamento homossexual para a evolução de muitas espécies
animais, como entre as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis),
do Havaí, que se unem a outras fêmeas para criar os filhotes, especialmente na
escassez de machos, tendo mais sucesso que as fêmeas solteiras. O estudo
conclui que a homossexualidade ajudou as espécies de diferentes maneiras ao
longo da evolução.
Base genética e fisiológica
Pesquisadores
descobriram que a desativação do gene FucM (fucose mutarotase) em ratos de
laboratório - o que influencia os níveis de estrogênio a que o cérebro é
exposto - fez com que os camundongos fêmeas se comportassem como se tivessem
crescido com o sexo masculino.
"O rato mutante
feminino foi submetido a um programa de desenvolvimento ligeiramente alterado
no cérebro para se parecer com o cérebro masculino em termos de preferência
sexual", disse o professor Chankyu Park do Instituto Coreano de Ciência e
Tecnologia Avançada em Daejeon, Coreia do Sul, que liderou a pesquisa.
Suas descobertas mais
recentes foram publicadas na revista científica BMC Genetics em 7 de julho de
2010. Em março de 2011, uma pesquisa mostrou que a serotonina está envolvida no
mecanismo de orientação sexual de ratos.
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